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domingo, 6 de novembro de 2011

Do valor da informação


De acordo com a Knight Center for Journalism, organização que monitora o trabalho dos jornalistas nas Américas, o Brasil é o segundo país mais perigoso para o exercício da profissão. Em alguns anos, alguns dos grandes expoentes da imprensa foram assassinados barbaramente durante seu trabalho em favelas, áreas de risco ou guerras urbanas. Hoje, mais uma vítima dessa corrida por vender a informação foi feita: o repórter cinematográfico Gelson Domingos morreu durante a gravação de uma matéria para a Bandeirantes. Isso remete a uma questão importante que precisa ser revista: qual o valor da informação quando se lida com vidas?

É importante mostrar à sociedade o que de fato está ocorrendo no mundo. Apresentar o lado obscuro que não se vê todos os dias, a fim de que todos percebam que é preciso ocorrer mudanças estruturais na sociedade. Entretanto, não dá pra mandar pessoas pra uma zona de guerra sem o mínimo de proteção. Os grandes veículos sabem o que ocorre nesses lugares e enviam funcionários para trabalhar, sem que haja preparo suficiente e ainda precisando manejar instrumentos que de nada servem para salvar suas vidas. A informação, nesse ínterim, vem na frente dos seres humanos. Seres esses que também possuem seu valor e que poderiam contribuir muito mais com projetos que não ameaçasse suas vidas.

É imprescindível mudar as diretrizes que delegam funções para repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. O Sindicato dos Jornalistas, que deveria ser mais ativo do que é, poderia aproveitar o momento e solicitar mudanças. Porque já basta de jornalistas mortos. Basta de profissionais respeitados perdendo espaço para a guerra.

2 comentários:

  1. Acho que além de ser um risco desnecessário ao profissional de imprensa (seja ele o jornalista, o cinegrafista, fotógrafo ou quem seja), sua presença em tais operações ainda atrapalha o serviço da polícia, levando em conta que os policiais além de se preocuparem com suas vidas e de seus colegas (profissionais treinados e preparados para tais operações) ainda se vem obrigados a proteger o profissional de imprensa que NÃO tem o devido preparo para situações como a que levou ao óbito do cinegrafista da band.

    Ontem assisti às imagens feitas pelo próprio Gelson Domingos, e ele me pareceu muito exposto em comparação ao policial que estava próximo à ele, que se posicionava bem atrás de um poste. Por que? Talvez pela falta de preparo que mencionei acima, talvez pela "sede" de imagens melhores. Vai saber...

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  2. Lívia, gostei do texto e acho pertinente o debate, mas me dou o direito de discordar da sua opinião.
    Nestes 2 anos em que eu trabalho em redação de jornal, já conheci diversos coleguinhas que bateram no peito e disseram: "não, não vou entrar nesta favela" (ou nesta área de risco, ou onde for). Em contrapartida, já conheci VÁRIOS coleguinha que GOSTAM da adrenalina, do risco, que entram onde quer que seja por uma informação mais exclusiva, mais importante, em suma, por um trabalho mais completo, por assim dizer. Alguém condena um paraquedista que morreu porque o equipamento não abriu? Ele sabe do risco e o faz por pura "diversão" (atenção às aspas). No caso do jornalismo, não é diversão: é dever. Não sei se o Gelson entrou obrigado ou por conta própria na zona de conflito. Mas, honestamente, não acho que seja este o debate. "Todo mundo sabe que ali tem bandido, pra que entrar lá?" Todo mundo sabe que ali tem bandido porque algum repórter ousou entrar lá. E quando entra e sai com as imagens, todo mundo compra/clica/assiste.

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